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Está provado que fazer um piercing na orelha cura enxaquecas?

7 Nov 2023 - 08:00
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Está provado que fazer um piercing na orelha cura enxaquecas?

Circulam no TikTok vários vídeos em que se garante que fazer um piercing na cartilagem interior da orelha (o chamado “daith piercing”) cura as enxaquecas. Os autores das publicações afirmam que sofriam com enxaquecas durante vários anos e o piercing acabou com este tipo de dores de cabeça.

Alega-se que o piercing funciona como a acupuntura dado que, supostamente, ao pressionar o ponto localizado na dobra interna da orelha, o organismo liberta “analgésicos naturais”, aliviando a dor. Existe evidência científica que comprove a eficácia deste método? 

Fazer um piercing na cartilagem interior da orelha trata as enxaquecas?

Em declarações ao Viral, Sandra Moreira, neurologista e uma das responsáveis pela consulta de cefaleias refratárias do Hospital Pedro Hispano, adianta que não há evidência que comprove que fazer um piercing na cartilagem interior da orelha tenha algum tipo de impacto nas enxaquecas.

Isto porque, acrescenta, “nunca foi feito nenhum estudo com qualidade” que corrobore a eficácia desta técnica. Portanto, este método, “do ponto de vista médico, não é recomendado”. 

Existem, de facto, “alguns relatos individuais de pessoas que fizeram o piercing e reportam uma melhoria da enxaqueca”, aponta a especialista. No entanto, reforça, “isto não comprova a eficácia do tratamento”.

Sandra Moreira explica que, para se validar o efeito de um tratamento – seja farmacológico ou não – é necessário fazer-se estudos controlados. No caso da enxaqueca, esses estudos devem, de preferência, ser feitos “contra placebo” (comparados com um placebo), uma vez que “o efeito placebo é muito grande”.

“Por exemplo, mesmo em estudos bem feitos, o efeito placebo pode ir até aos 30% ou 35%, que é muito”, salienta a neurologista. 

Além disso, os efeitos na enxaqueca reportados nestes casos isolados “são curtos no tempo” e isso “significa que o efeito também não é sustentado”, defende.

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De acordo com as publicações partilhadas, este piercing funciona como a acupuntura. Mas é verdade que a acupuntura ajuda com a enxaqueca?

“Para a acupuntura, ao contrário do piercing, existem vários estudos e alguns, de facto, sugerem que esta técnica melhora a enxaqueca, tal como pode melhorar outras patologias dolorosas”, esclarece Sandra Moreira.

Contudo, os estudos que existem “não estão muito bem desenhados e a sua qualidade não é a melhor”, aponta.

Para mais, “não se sabe muito bem o porquê de a acupuntura melhorar a enxaqueca em si”. Segundo a especialista, “pensa-se que um dos mecanismos pode ser, de facto, a libertação, no organismo, dessas substâncias analgésicas, nomeadamente as endorfinas”. 

Mas, mais uma vez, “são apenas especulações acerca do possível mecanismo”, frisa.

Concluindo, “a evidência não tem qualidade nem é robusta o suficiente para resultar numa recomendação médica”, tanto no caso da acupuntura, como do “daith piercing”.

Quais os tratamentos disponíveis para as enxaquecas?

Sandra Moreira revela que “existem duas formas de tratar a enxaqueca”. Por um lado, há um tratamento numa “fase aguda”, em que é preciso tratar a dor provocada pela enxaqueca. 

Neste caso, por norma, “pode-se recorrer a analgésicos ou anti-inflamatórios, como o paracetamol e o ibuprofeno, ou medicamentos mais específicos para a enxaqueca, os triptanos, ou ainda, mais recentemente, uma classe específica da enxaqueca, os gepants”, explica.

Por outro lado, continua, “existe o tratamento preventivo (ou profilático) para pessoas que têm enxaquecas com uma frequência e intensidade que justifica fazer tratamentos a longo prazo para evitar a sua ocorrência”.

Neste contexto, recorre-se, num primeiro plano, a “tratamentos orais”, ou seja, “comprimidos”. 

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Depois, existem tratamentos que geralmente se usam “como segunda ou terceira linha para as pessoas que não respondem ou não toleram os fármacos, como a botox ou, mais recentemente, os anticorpos anti-CGRP”, informa a neurologista. 

Estes métodos não curam, “porque se a pessoa parar o tratamento pode voltar a ter enxaquecas”. Contudo, “permitem, na maioria dos casos, diminuir a frequência e a intensidade das crises”. 

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Além de todas as medidas farmacológicas, aconselha-se os doentes a “reduzirem os níveis de stress”, terem “uma boa qualidade do sono”, manterem “uma alimentação saudável e regular” e “praticarem exercício físico”.

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Neurologia

7 Nov 2023 - 08:00

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